Sob a pele de outra pessoa que não eu, escrevo o mesmo:
A aparência e o nome não são mais do que outra forma de esconder a alma.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Um Conto

Não sei qual é o género, ou o nome. Apeteceu-me e eu escrevi, e nunca dou titulos a coisas assim. Aliás, sou péssima com títulos.

Tinha as mãos gretadas pelo frio do pico do Inverno, naqueles fins de Fevereiro que esfriara tanto que ninguém saia de casa sem pelo menos três camadas de roupa.
Numa pasta, assente na curva da minha anca, estavam arquivados os projectos de Marketing, e apetecia-me atirá-los ao mar, para que se dissolvessem na água que estava tão gelada que chegava a parecer quente, vogando para longe, para onde não me pudessem assombrar mais com o seu falhanço tão redondo.
O meu projecto, que me custara três meses de árduo trabalho, fora rudemente carimbado de «Terrível», em três segundos. O trabalho que roubara tantas horas da minha vida, tinha sido caracterizado de «algo sem ponta que se lhe pegue», como se fosse um trabalho de criança. Um trabalho que não leva três meses cuidadosos e esforçados a ser elaborado.
Chumbada no meu trabalho experimental, que concluía os meus meses de estágio, não tinha nada. Estava, tanto quanto o sabia, condenada à fome e desalojada, desde o momento em que saíra da sala de reuniões.
Sentei-me num banco à beira da estrada, frio como o gelo, a colar-me os dedos. Tentado proteger-me do frio, enrolei mais o cachecol, e pensei no quão bom teria sido se tivesse ido para artes. Talvez fosse uma “carreira instável”, nas palavras de toda a família, mas era mais apaixonante e, por certo, mais útil que a carreira medíocre que estava a construir no Marketing.
Tornei a abrir a pasta, e estava tudo lá, as folhas tão brancas como quando entrara, mas de certa forma manchadas desde que saíra. Rasguei o canto de uma, assolada pelo ensejo de rasgar o resto. De que me valeriam todos os slogans, todos os planos, se tinha sido posta de lado? Naquele momento, interrogava-me se os empresários que me tinham expulsado sem cerimónias saberiam o quanto sofreria para continuar a viver. Tinham arruinado as minhas hipóteses de viver como as conhecia, sem despender mais do que cinco minutos, após uma hora brilhante e confiante de explicações. Pensara ver brilho nos seus olhares, interesse… Mas enganara-me, e subira alto de mais.
Arranquei uma das folha e atirei-a ao vento, arrebatada pela facilidade que tinha em destruir o meu projecto mais importante.
E depois outra, e outra, abandonadas no ar frio como se não tivessem importância –E não tinham. Já não tinham.
Via as folhas desenhar padrões engraçado no ar, rodando em piruetas, finalmente livres. Vi-as prenderem-se em postes, cair à água, rasgar-se debaixo das rodas dos carros.
E, finalmente libertada daquele peso, atirei ao ar todas as outras folhas. E também elas voaram, felizes.
Deixei a cabeça cair nas mãos, prestes a chorar, e só a levantei a custo, quando o som alto de uma buzina me chamou à realidade. Levantei os olhos, para o camião que se esforçava para limpar as minhas folhas do pára brisas. Senti-me culpada, por saber que fizera aquilo, atemorizada com os resultados, mas não verdadeiramente desesperada, porque o desespero já tomava conta de mim à algum tempo.
E, depois, sob o olhar de várias pessoas, o camião guinou na minha direcção. Vinha direito a mim, numa fracção de segunda, e não houve tempo que me sobrasse para fugir.
E naquele ultimo segundo, só conseguia pensar em como tudo teria sido diferente se tivesse ido para artes. Eu era, aos olhos dos outros, a inocente menina que morrera às mãos de um motorista incauto. Aos meus olhos, eu era apenas a falhada que, no derradeiro dos desesperos, não soubera fazer nada melhor do que provocar a própria morte.
Mas não havia tempo para pensar nisso, porque num segundo eu estava em agonia.
E depois, era só luz e escuridão em simultâneo.
E depois, era só frio, e era calor.
E depois, era só a baforada que soprava a minha vida para longe. Para o inalcançável.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

2ª Parte

E muitas mais virão...


Volto para dentro, rodopio mais um pouco, e concentro-me em ser a mais bondosa, provocadora e bala de todas. Se antes estavam rendidos, agora os homens estavam enfeitiçados, fixando cada um dos meus movimentos. Queria ser duquesa, mas se isso implicava ser casada com alguém tão frio, alguém que não gostava de mim e não queria mudar de opinião, então negava-me a fazê-lo –porque, lá no fundo, tinha medo de ser casada com ele. E, para mais, ele era um segundo filho, por isso nem duquesa eu seria. Seria casada com um segundo filho, sem nada de especial.
Mais tarde, fico com os homens e algumas damas no salão, a conversar e a rir. Verifico que Jane saiu com o marido, depois de ter dançado durante tantas horas com William, o mocinho, que agora toca alaúde num canto, e que eu ignoro. Também não há vestígios do meu pretenso futuro noivo, mas não me ralo, uma vez que me deixou sem resposta no jardim.
Algumas damas levantam-se, e eu sigo-as na complexa dança de passos sincronizados que treinámos à alguns dias, sob uma chuva de aplausos dos homens e das mulheres demasiado cansadas para dançar, tentando esquecer que talvez amanhã já esteja prometida.
A noite é jovem, e pode ser a minha ultima noite livre.

♦♦♦

Afinal, aquela não foi a última noite.
Os dias sucederam-se com a habitual azáfama cuidada da corte, e eu não sobe de mais nada acerca desse que pode vir a ser o meu marido, Henry, excepto alguns rumores passados de boca em boca em surdina, que sentenciam que meu pai passa várias horas conferenciando com alguém em privado. E, agora, rezo fervorosamente, para que esse “Alguém” não seja o pai de Henry, ou para que se estejam a dar mal. Todos dizem que estou mais devota, um exemplo perfeito, quando na realidade rezo pelo meu próprio bem, tentando fugir como uma cobarde aos sinos do matrimónio.
Agora, bordo um lenço de um branco imaculado para o vencedor do torneio de ténis. Vai ser uma competição agradável, mais opulenta do que é por norma, e eu prometi a um grupo de jovens o meu lenço bordado à mão e um beijo na face ao vencedor. Contei entre eles um primogénito, de um conde importante, olhando-me de forma apaixonada, e eu torço para que vença.
Enfio uma bracelete dourada e um sapato em cada pé, e saio de lenço na mão. A tarde está quente e dourada, mas o campo brilha, a relva luzindo vergada, sob o peso da água com que foi regada. Todos os participantes têm uma raqueta na mão, e eu junto-me às damas debaixo de um toldo, que invejam o meu vestido magenta, bordado a fio de ouro. O meu pai ditou que, enquanto não me fosse arranjado um esposo, me vestisse o melhor possível.
Vejo os olhos do filho do conde brilharem de desejo, fixos no lenço de linho fino na minha mão, e sorrio-lhe, encorajadora.
Acompanho o jogo como se estivesse hipnotizada. Quase desespero. O filho do conde, que tanto desejava o meu lenço, é uma nódoa, não presta no jogo, e é derrotado por todos quantos jogo. O vencedor tem a cara coberta por um lenço, tentado evitar o sol escaldante, e não lhe consigo ver sequer os olhos. Espero que a sua prestação seja sinal de uma excelente educação e, daí, riqueza.
O jogo acaba. O misterioso cortesão saí vitorioso, e o rapaz por quem torcia abandona o campo em derrota. Faz-me olhos de cachorro, mas nem olho para ele, mostrando desta forma que tem de se esforçar pela minha atenção.
Dirijo-me para o rapaz oculto, e ele retira o lenço. Arfo de angustia. Lá está ele, Henry, coberto de suor, com um sorriso no rosto, que endurece quando me vê. Deixo o lenço cair, e ele tem de se baixar para o apanhar, e dou-lhe um beijo rijo, hirto, murmurando-lhe ao ouvido «Podeis devolvê-lo mais tarde, não valestes o trabalho» e saio, deixando todos a conspirar, exasperados, o que será que Henry fez para ofender alguém tão nobre, e regozijo-me com tudo aquilo.
♦♦♦

Durante vários dias, permaneço afastada de Henry a todo o custo. Sei-o furioso comigo, com a minha atitude, humilhando-o. Consigo sorrir de cada vez que mencionam o incidente, escondida por um espirro disfarçado, mas mostro-me sempre arrependida quando me encaram, como uma menina, uma vitima eternamente boa que perdeu o controlo por um segundo mas que se arrepende. E todos me acham adorável por isso, e desprezam Henry, com esgares e desculpas.
Com o correr do tempo, tudo cai no esquecimento, e eu sou livre de permanecer junto de Henry sem ser alvo de um comentário de escárnio por parte dele.
Agosto já correra até meio e pouco mais além, quando um rapaz alto e bem parecido vem ter comigo. Passeio no jardim e, portanto, posso facilmente sentar-me num banco e esperar que ele se junte a mim, o que não tarda a acontecer.
-Senhora –cumprimenta-me com um elegante aceno de cabeça, e eu dou-lhe a minha mão descorada a beijar. –Sabeis que sou, senhora?
Abano a cabeça, negativamente. Talvez fosse mais um dos muitos, ou talvez nunca o tivesse visto. Não havia diferença entre um e outro.
-Já previa –da última vez que me haviam feito semelhante pergunta, tinham-ma feito de forma dura, mas este jovem caloroso exibia um sorriso divertido –Não sou grande presença em bailaricos ou jogos. Nasci com duas mãos e dois pés esquerdos, infelizmente. Sou o perfeito oposto do meu irmão, a outra face da moeda.
E, aí, junto as peças. O rosto bonito não me é tão desconhecido assim. É bastante parecido com Henry, mas mais encorpado e, de certa forma, belo. Tem tanto de afável presente nas suas faces coradas quanto Henry tem de frieza no rosto duro. E é, sem duvida, uma presença mais agradável. Mas, ainda assim, tremo na sua presença.
-Estais nervosa? Ou doente? –o seu tom de voz tão preocupado traz-me lágrimas aos olhos, e ele fica assombrado –Sentes-vos bem?
A custo, aceno.
-Sim, oh sim, sinto-me optimamente… Mas ao que vindes vós?
-Oh… -e, de repente, uma nova sombra recobre aquele rosto tão bonito –Dar-vos uma noticia, e não creio que seja boa…
Quase me dou uma bofetada por desejar que o seu irmão esteja morto, e que ele me venha dizer as datas do seu funeral, mas controlo-me, assim como aos meus pensamentos, e esboço uma expressão curiosa.
-Ides casar-vos. Com o meu irmão, digo. Serão prometido amanhã, defronte da vossa família e da minha.
E o choque é tão grande que quase caio. Apoio-me na pedra fria como um condenado se agarra às grades da sua cela, como o último lugar. Agora, já não me sentia bem.
-Senhora? Por favor, dizei-me se estais a passar mal, quereis que mande vir um médico?
Abano a cabeça, sorvendo ar, mas sem conseguir respirar. Acabo por ceder ao braço que me estende, e deixo-me ser arrastada por aquele homem tão bondoso até ao castelo, agarrada ao peito, onde o meu coração parece querer deixar de bater.

♦♦♦

O médico veio ver-me, e mandou-me ficar na cama durante uma semana, para que depois me pudesse examinar.
Os primeiros dias passei-os com febre, suando, implorando para que abrissem as janelas, debatendo-me contra os lençóis. Mas comecei a restabelecer-me, à medida que o choque passava. Quando o médico regressou, disse-lhe que ainda me sentia mal, para não ter de sair e enfrentar o meu medo, o temor que tenho de ver Henry, triunfante, que poderá mandar-me para o campo, viver o resto da minha vida no desgosto e na desgraça.
Leio livros de historietas românticas, durante os dias, para me acalmar. Mas, durante a noite, quando a minha criada de quarto sai, dedico-me às minhas habituais leituras arrojadas, que tratam de assuntos sérios.
Jane vai partir em breve com o marido e, temendo ser contagiada, deixou de partilhar os aposentos comigo, pelo que agora estou sozinha.
No décimo terceiro dia da minha convalescença, recebo uma visita.
-Mandai-o entrar –proclamo, com a voz ainda um pouco rouca, à criada de quarto. Ela abre a porta, e o irmão de Henry torna a entrar. Ergo uma sobrancelha.
-Não tendes medo de adoecer? –interrogo.
Ele ri-se.
-De adoecer? De ansiedade? Nenhum médico comprovou até agora que isso seja contagioso… Mas não me apresentei, no outro dia… Sinceramente pensava que ia ter mais tempo.
Rio em consonância com ele, divertida e deliciada.
-Margaret Thurman, prazer. Estendia-vos a mão, mas é melhor não desafiarmos a sorte.
-Concordo plenamente –ele ri-se também – James Babington.
Senta-se a meu lado, na cama antiga de Joana, que começava a acumular poeira, que se ergue em pequenos remoinhos quando se senta.
-Dizei-me…
-Tudo.
-Porque foi que me dissestes que tinhas más noticias no outro dia? Isto é, quando me comunicastes de que estava prometida?
Ele encolheu os ombros.
-O meu irmão é não é simpático, bondoso… Não penso, de todo, que dê um bom marido.
E então, no auge da minha loucura, ouso fazer-lhe a pior das perguntas:
-E porque não vos casais vós comigo?
O seu olhar avalia-me de alto abaixo, deitada na cama, entre o coberta e o descoberta por entre os lençóis brancos, numa camisa de noite quente, o cabelo preso numa grande trança que me desce pelas costas, contrastando com a camisa. Muito provavelmente pensa, tal como eu, que este é um cenário muito intimo. Ajeito de imediato as almofadas, cubro-me novamente com os lençóis, que atirei para trás no desespero pelas noticias que me trazia, e componho outra expressão.
-Bem… Eu sou o filho mais velho. Neste caso, só tenho de arranjar a mulher com a posição mais elevada, mesmo que ela seja velha, feia, maldosa… Mas o meu irmão, ele não tem obrigações… Meus pais decidiram conceder-lhe uma donzela generosa e elegante, a mais bela das damas da corte. Entendestes? Preferiria casar convosco, claro, mas creio que o cumula da minha infelicidade se cumprirá dentro em breve.
Coloco a mão quente sobre a dele, num gesto carinhoso. É a primeira pessoa, em todo este vasto mundo, a que posso chamar de amigo. É compreensivo, afável e honesto, sem duvida o homem com quem quereria casar, por mais cheia de esquemas elaborados que eu teime em inventar. Ele seria o homem perfeito, e está condenado, tal como eu, a viver com alguém de quem não gosta, e que, provavelmente, não lhe dará o devido valor. E pelas mesmas razões: Ambos servimos apenas para ganhar posições. Não passamos de duas peças no grande jogo dos nossos pais, por mais inteligentes, bonitos e gentis que sejamos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um pequeno Conto

É apenas uma coisa do momento... Estou a planear dar-lhe continuação, claro!


O corpete estava demasiado apertado, comprimindo-me os seios contra as costelas. As palmas da minhas mãos acumulavam gotículas de suor, tal como a fronte e as pernas, envoltas pelo emaranhado de tecidos caros e veludos quentes, todos eles azuis e negros, embora estivéssemos em pleno Verão. Nascera com o defeito de ter pés grandes, intolerados pela sociedade exigente, espremidos dentro de sapatos duros, que me partiam os dedos dos pés e me provocavam lampejos de dor a cada passada. O meu tocado estava demasiado puxado para trás, arrancando-me cabelos, sem me permitir curvar a cabeça.
Mas, obviamente, ninguém via isto. Tudo o que a multidão via era uma jovem senhora, de cabelos castanhos brilhantes, lábios carnudos e pele branca Perfeita, etérea e jovial. O exemplo da filha perfeita. O exemplo da esposa perfeita. O exemplo da amante perfeita. E eu, como menina obediente, sorria e não me queixava, fortuitamente destacada na posição onde estava mais à vista de todos os possíveis pretendentes.
À dois meses que não se falava de outra coisa. Já tinha catorze anos, e o tempo não perdoava. Estava agora mais graciosa e mais bela do que nunca, estava na altura de casar: E, com sorte, apanhavam um Duque, alguém importante, alguém rico. Não importava sequer se me trataria bem, ou se me levaria para lá das fronteiras. Queriam um bom marido, que me assegurasse posição e que trouxesse posição ao resto da família. Tinha nascido para isso, pelo erro de ter nascido rapariga. Tinha nascido como uma peça de mobília, que tinha de ser perfeita ou era inútil. E jamais alguém me ouvira queixar da posição.
O banquete fora secretamente dado em minha honra. Era suposto serem as bodas da minha irmã, mas ela já cumprira o seu papel. Agora estava na minha vez, e eu ofuscaria todas as outras. Achava, mas não dizia, disparatado que tentassem um casamento bom a seguir ao outro. E o dinheiro para o dote? Todos achavam que a minha beleza e graciosidade compensaria um dote empobrecido, mas eu sabia que estavam enganados. Os homens queriam primeiro o dinheiro, depois um filho, depois algo que governar, seguido de uma posição. A esposa vinha muito depois, e a beleza desta não a faria subir mais do que meia dúzia de posições na lista.
Martelava um unha insistente no braço da cadeira. Escorregou-me a mão húmida, fazendo-me dar com o dedo num canto, retorcendo-me a unha. Mordi o lábio para abafar um pequeno grito de dor, e depois compus uma expressão segura, novamente aquele antigo misto de desafio e expectativa, tão velho truque que, para ser honesta, ainda enganava muitos moços, todos eles inexperientes, que tinham de ser chamados à atenção pelos pais ou tutores. Os rapazes eram tão estupidamente ignorantes, mocinhos apaixonados, aspirando à fortuna e ao amor de uma bela mulher… Tendo nascido numa posição inferior, a minha mente está repleta de jogos, de desafios. Tudo o que observei e aprendi para conquistar o amor ingénuo – E um desses truques é o sorriso confiante, o desafio. É o truque mais básico, o primeiro a ser empregado, mas ainda assim apanha muitos nas suas malhas.
Vejo alguém subir as escadas, de encontro à mesa principal. É um rapazito conhecido, sabido por encantar algumas das mais experientes jovens damas. Não é importante, mas o que lhe falta no titulo está implícito na sua atitude. Sabemos que só escolhe as mais belas, e até as casadas desejam em segredo ser cortejadas por ele, só para poderem negar-se, para poderem ter paz de espírito em relação à sua beleza.
Não vou mentir dizendo que o meu coração não falhou duas batidas quando o vi subir. É uma audácia, quase um crime, vir chamar-me à mesa de jantar, de onde vejo bem todas as danças e representações, convidando-me para dançar quando nem sequer a isso me dispus. Mas, como sei que vai fazê-lo, sorriu de forma convincente, e não chamo ninguém. Finjo que não o vejo, embora espreite pelo canto do olho.
E, no entanto, fico chocada ao ver que não se dirige a mim. Pegou na mão da minha irmã Jane, beijou-a, e felicitou-a pelo casamento. Ela fica deliciada, e olha-me de soslaio para ver se fico irritada por ter sido ofuscada. Mas eu prendo os olhos à dança lá em baixo, fingindo não ver nada. E Jane acredita e fica enfurecida, porque a inteligência e a perspicácia não são os seus fortes. Teve sorte em captar a atenção de alguém, aquela rapariga atrasada.
Jane prontifica-se a dançar com ele, e descem juntos. Decido nessa altura que não podia ficar para trás, sorrindo como uma tonta. Tenho de jogar o meu próprio jogo.
Levanto-me da mesa, rodeio todos os velhos e todos os cansados, e desço também. Arranjo par no primeiro segundo, e rodopio com ele pela pista. Os anos que passei na França ensinaram-me a dançar melhor que todas as outras. O meu pé sempre ágil, sempre mais rápido, desliza quando os outros escorregam. É sempre dado algum espaço à pequena dama, a mais graciosa e bondosa, aquela que esconde um jogo intrincado, o olhar de uma víbora, sob cortinas de doçura e desafio.
E passo de braço em braço, invejada pelas mulheres, desejada pelos homens. A todo o momento, à um novo braço prestes a agarrar-me a meio de um volteio mais solto, e os homens odeiam aqueles que roubam a sua vez. Parece que já dancei com todos os rapazes do castelo, estou afogueada, ofegante, tonta e cansada, depois de um dia a tentar cativar as atenções durante um torneio, o dia em que felicito os vencedores com um lenço bordado, e eles sorriem, corados, adorados, enganados. Um atrás de outro, corro-os, persigo-os, e asseguro-me de que estão a ficar perdidos por mim. E um, com maior fortuna e maior sorte, casará comigo, sentir-se-à amado, terá uma bela noiva, e poderá gabá-la, enquanto os outros carpem as mágoas de terem nascido mais pobres, menos relevantes.
Hei-de rir-me quando esse jogo estiver terminado. Serei um cavalo cansado da corrida, mas sempre vitorioso.
No entanto, estou demasiado cansada e apertada para permanecer no salão.
Corro por entres mares de braços e de saias rodadas, e escapo-me do salão principal. Corro pelo castelo sombrio, passo pelos guardas caídos de bêbados, e suspiro o ar quente do Verão, finalmente livre para abrir os olhos e correr, sentido a brisa saudável do ar livre, esquecendo a multidão ansiosa que me espera.
Em silêncio, apreciando a paisagem, caminho até ao rio, que faz um burburinho de cristal ao passear-se pelas margens.
Lá, descalço os sapatos apertados e abano os dedos no ar. Afinal, sou só uma criança, para além dos jogos de amor e dos pretendentes ansiosos. Afinal, gosto tanto de chapinhar nas poças quanto uma menina pequena, filha de dois plebeus.
Ajoelho-me na relva cuidada e fresca, para poder tocar a água. Passo água pelo rosto afogueado, pelos braços desnudados quase até ao cotovelo. Depois, sento-me na margem e mergulho os dedos vermelhos e em ferida na água, que parece mais fria devido ao calor.
Sinto, após uns minutos, que em breve terei de voltar, terei de dançar mais um pouco e, mais tarde, sentar-me junto dos jovens que farão serão, conversando e jogando um pouco, como uma criança não devia fazer. Se cá fora sou só uma criança pequena, lá dentro sou uma adulta. Terei de me comportar como tal, mesmo sendo eu pequena. A idade em anos não conta para mim, porque a minha cabeça cresceu para lá das outras.
-Uma dama sozinha, tão bonita, tão formosa, que chapinha na água como uma pequena camponesa? Para onde foram as vossas danças tão alegres, senhora?
Por pouco não vou de cabeça ao rio, com o susto. Rodei a cabeça e lá estava ele, um rapazito pequeno, filho de um Duque. Este tinha uns olhos sabedores, não era como as outras crianças. Sabia que era inteligente e erudito. Um estudioso. Mas aqueles olhos revelavam que sabia muito acerca da natureza de uma mulher, e não me olhavam de forma calorosa. Eram quase frios.
Não lhe respondi, e ele sentou-se como se tivesse sido convidado.
-A quantos homens fizestes olhos bonitos hoje? Trinta? Quarenta? Acaso sabeis os nomes deles, senhora?
Abano a cabeça perante tal pergunta, sentindo-me estúpida nesse mesmo segundo por ter revelado as minhas fraquezas.
-E acaso contais-me entre eles?
Torno a não responder.
-Então, não sabeis que fui eu a quem vós pregastes um beijo na bochecha, por ter ganho o torneio. Fui eu aquele a quem entregastes o vosso lenço.
E tirou do bolso do formal casaco um lenço de seda azul, com a insígnia da família a prata, e um grande M de Margaret a fio de ouro.
-Creio que o quereis de volta –e atira-mo, de forma rude, como se fosse o dono de uma taberna e não o filho de um duque.
O meu olhar avassalado percorre-o. Nunca me tinha sido devolvido um presente.
-Era para vós. Por terdes ganho o torneio –teimo, fingindo a inocência. Ele solta uma gargalhada amarga.
-Deve custar-vos caro cada lenço desses. E para que o quero eu? Não ficarei deliciado, a cheirar o seu perfume de rosas e fantasiando convosco como todos os homens. Eu sei que não passais de uma ordinária, apanhando o mais alto que podeis.
Fico pasma. Quem era ele para me chamar ordinária, como se não fosse mais que uma camponesa? Do que uma mulher velha num bordel?
Enfio os sapatos e puxei do meu lenço, alisando-o.
-Devíeis ter vergonha e cuidado. Tendes razão, não mereçais qualquer prémio.
E começo a afastar-me. Ele, porém, permanece no seu lugar, e solta uma gargalhada amargurada.
-Correi à vossa vontade, mas não poderás fugir-me. Sabeis, por acaso, que em breve estaremos prometidos?
Ao ouvir isto, estaco, petrificada, e volteo-me para ele.
-Não minto, acreditai. E sinto tanto por isso como vós. Tanta beleza desperdiçada em alguém tão esgalgado, creio?
Arregalo os olhos para o meu futuro marido. Era tudo menos esgalgado. Tinha um corpo forte, um cabelo negro espesso e uns olhos verdes bonitos. O rosto era digno, altivo. E era, sem duvida, inteligente, Porque se diria ele, cheio de posição e de qualidades, um pobre rapaz esgalgado, condenado à eterna ofuscação da mulher?
-Esgalgado? –dei voz às minhas divagações.

E um Pouco sobre o Meu Estudo... (2)

Há dias andava eu a passear pela biblioteca (Eu sei, que nerd, mas estava real e desesperantemente disponivel xD) e encontrei um livro bastante interessante. Não era sobre este assunto, até acho que era um manual antigo, mas estive a lê-lo e absorver tudo aquilo e acabei por desenhar algo na minha cabeça que se aproxima muito de um esquema anti-bloqueio-de-escrita.
Então, a questão é a seguinte:
É um exercicio para melhorar o uso de diálogo, para torná-lo mais coerente e fluido... Aconselho apenas usá-lo quando estiverem bloqueados no que toca á escrita, porque esta deve ser natural e não arquitectada por meio de esquemas... Mas até acho que este dá jeito, embora cada escritor (se assim me posso auto-denominar) tenho as suas... Digamos, pancas.
Então, vou utilizar duas personagens da minha autoria, a Evellyn e a Genna, para criar este diálogo. Isto porque é mais facil para mim escrevê-lo se ambas as personagens tiverem personalidade e vida.
Posso ajudar dizendo que ele começa com a Evellyn, mas daí são capazes de se perder.


-A sério, não lhe ligues...
-Olha quem fala!
-Porquê?
-Nada...
-Oh, não sejas parva! Porquê?
-Por favor...?
-Bem, eu vi a maneira como tens sempre os olhos colados a ele.
-Ele quem?
-Não te faças de desentida, menina, eu consigo olhar em várias direcções ao mesmo tempo...
-É, como uma cobra. Ou és só estrábica?
-E usalos para manteres o Josh e a mim debaixo de vista?
-Uso-os para manter todos debaixo de vista. É assim que se caça...
-Estás a chamar-me rato?
-Eu prefiro passaros... Sabes, os pequeninos que cairam porque ele estava demasiado cheio?
-Não tens resposta para esta?
-Queres que diga o quê? Pelo menos não caí do ninho porque ele tresendava...
-Estás a dizer que eu tresando?
-A alcol, talvez...
-Eu sei... Mas o que queres que faça?
-Para além de que não era a única, eu vi-te muito animada na outra noite?
-Referes-te áquela em que o Colin ficou acidentalmente com um buraco de dez centimetros de diametro no peito? Oh sim, foi uma animação...
-Bem, ele está vivo, certo? Para além de que acabamos por nos desviar?
-Achas? Queres mesmo que insista?
-Não, deixa estar.

Pronto, talvez nenhum de vocês tenha percebido, mas isso é porque criei esta cena a partir de um manuscrito, de uma parte de um original que ainda não comecei, mas não era exactamente essa a questão. Talvez se tenham perdido aqui no meio, e isso acontece por uma razão muito simples: Falta aqui um sinalizador, algo que nos diga quem disse o quê. Este é o segundo passo para a criançaõ do diálogo. Comecem por escrever as frases do diálogo numa folha (até podem experimentar fazê-lo agora. Imaginem duas personagens vossas a falar ou, então, finjam que duas personagens de livros distintos se encontram. Por exemplo, o Edward Cullen e o Erik Night (para aqueles de vocês que são fãs de vampiros xD) ou Lord Voldemort e Sauron (esta é a minha ver~sao ainda mais nerd). Arranjem algo que esteja no vosso campo de leitura e juntem as duas personagens num diálogo, que pode ser amistoso, agitado, sedutor... Mas juntem-nas e comecem a escrever.), e agora nomeiem que disse o que, ao géneo do texto dramático.


Evellyn:-A sério, não lhe ligues...
Genna:-Olha quem fala!
Evellyn:-Porquê?
Genna:-Nada...
Evellyn:-Oh, não sejas parva! Porquê?
Evellyn:-Por favor...?
Genna:-Bem, eu vi a maneira como tens sempre os olhos colados a ele.
Evellyn:-Ele quem?
Genna:-Não te faças de desentida, menina, eu consigo olhar em várias direcções ao mesmo tempo...
Evellyn:-É, como uma cobra. Ou és só estrábica?
Evellyn:-E usalos para manteres o Josh e a mim debaixo de vista?
Genna:-Uso-os para manter todos debaixo de vista. É assim que se caça...
Evellyn:-Estás a chamar-me rato?
Genna:-Eu prefiro passaros... Sabes, os pequeninos que cairam porque ele estava demasiado cheio?
Genna:-Não tens resposta para esta?
Evellyn:-Queres que diga o quê? Pelo menos não caí do ninho porque ele tresendava...
Genna:-Estás a dizer que eu tresando?
Evellyn:-A alcol, talvez...
Genna:-Eu sei... Mas o que queres que faça?
Genna:-Para além de que não era a única, eu vi-te muito animada na outra noite?
Evellyn:-Referes-te áquela em que o Colin ficou acidentalmente com um buraco de dez centimetros de diametro no peito? Oh sim, foi uma animação...
Genna:-Bem, ele está vivo, certo? Para além de que acabamos por nos desviar?
Evellyn:-Achas? Queres mesmo que insista?
Genna:-Não, deixa estar.


Pronto, agora cada frase foi atribuida, e já sabemos quem disse o quê, por isso podemos passar á próxima fase: Como é que foi dito. Ou entoação. Acrescentem-nos numa ou duas palavras, de forma sucinta, á frente da vossa personagem.


Evellyn(insistente):-A sério, não lhe ligues...
Genna(melindrada):-Olha quem fala!
Evellyn(admirada):-Porquê?
Genna(descartando):-Nada...
Evellyn(cansada):-Oh, não sejas parva! Porquê?
Evellyn(implorando):-Por favor...?
Genna(misteriosa):-Bem, eu vi a maneira como tens sempre os olhos colados a ele.
Evellyn(admirada):-Ele quem?
Genna(escarnecedora):-Não te faças de desentida, menina, eu consigo olhar em várias direcções ao mesmo tempo...
Evellyn(provocadora):-É, como uma cobra. Ou és só estrábica?
Evellyn(provocadora):-E usalos para manteres o Josh e a mim debaixo de vista?
Genna(ignorando):-Uso-os para manter todos debaixo de vista. É assim que se caça...
Evellyn(divertida/melindrada):-Estás a chamar-me rato?
Genna(fazendo-se de desentendida):-Eu prefiro passaros... Sabes, os pequeninos que cairam porque ele estava demasiado cheio?
Genna(desafiadora):-Não tens resposta para esta?
Evellyn(ignorando):-Queres que diga o quê? Pelo menos não caí do ninho porque ele tresendava...
Genna(melindrada):-Estás a dizer que eu tresando?
Evellyn(esclarecendo):-A alcol, talvez...
Genna(aceitando):-Eu sei... Mas o que queres que faça?
Genna(provocaora):-Para além de que não era a única, eu vi-te muito animada na outra noite?
Evellyn(irónica):-Referes-te áquela em que o Colin ficou acidentalmente com um buraco de dez centimetros de diametro no peito? Oh sim, foi uma animação...
Genna(simples):-Bem, ele está vivo, certo? Para além de que acabamos por nos desviar?
Evellyn(desconfiando):-Achas? Queres mesmo que insista?
Genna(descartando):-Não, deixa estar.



Eu sei que usei muito o gerundio... Mas de qualquer forma, não tenham medo de se repetir e não puxem pela cabeça. Imaginem apenas aquela personagem a dizer aquela frase, oiçam a entoação e descrevam-na. Ora, eu sei perfeitamente que não podem caracterizar todas as frases, por isso têm que eliminar aquelas em que a pontuação ou a simples forma como o dizem esclarece tudo. Mas, bem, para além de tudo isto, têm de haver articulações no vosso diálogo. Acções e pequenos gestos, olhares, movimentos, pensamentos... Isto porque no nosso dia a dia jamais falariamos por falar. Á sempre um movimento, um pensamento... Um milhão de sentimentos, cores, olhares e movimentos... E ´´e dever do escritor passar para o papel algo palpavel. Algo que poderia realmente estar a acontecer. Um diálogo vivo, que se escreve sozinho. é dever do escritor fazer com que nós acreditemos que, mesmo se quem estiver a falar viver num universo paralelo onde combate numa guerra contra duendes sanguinários, aquilo pode estar a acontecer. Os filmes têm a vantagem de que cada actor execute uma infinidade de pequenos gestos ao mesmo tempo, o que torna tudo real, e o escritor deve fazer-nos ver um filme na nossa cabeça. Por isso, devem haver acções e pensamentos entre linhas. Depois disto, basta construir o texto. Podem usar alguns dos adjectivos para descrever o diálogo (Admiração=Admirou-se; Indignação=Indignou-se; Ironia=Ironizou) ou usar uma junção de palavras com adjectivos (Sussurou calmamente; Esclareceu num murmurio agitado; Proferiu, admirada). Também podem não utilizar adjectivos (sussurrou; disse; perguntou) ou não usar verbos, mas sim acções (-Não! -pergou num livro e enterrou lá o nariz, sem se deixar perturbar por mais ninguém. Agora estava no seu pequeno mundo tranquilo) para separar falas. Isto muitas vezes dá jeito entre frases da mesma pessoa mas com entoações ou propósitos diferentes. Agora vou reescrevê-lo de forma a que fique coerente e pronto a utilizar:



-A sério, não lhe ligues... -insitiu Evellyn.
-Olha quem fala! -protestou, num tom algo melindrado, Genna.
-Porquê? -admirou-se Evellyn, erguendo um unica sobrancelha, naquele gesto que tanto irritava a sua amiga.
-Nada... -descartou Genna, com um revirar de olhos.
-Oh, não sejas parva! Porquê? -protestou, mas Genna deixara cair os livros todos e aproveitava o pretexto para a ignorar.
Evellyn aguardou pacientemente que ela acabasse, tentando não suspirar com todas as suas propositadas delongas a recolher as folhas e a ordená-las.
-Por favor...? -implorou, quando se tornou impossivel para Genna continuar a fingir que organizava o material e ela se ergueu.
-Bem, eu vi a maneira como tens sempre os olhos colados a ele.
-Ele quem? -admirou-se Evellyn.
-Não te faças de desentendida, menina, eu consigo olhar em várias direcções ao mesmo tempo...
-É, como uma cobra. Ou és só estrábica? -provocou-a. E depois acrescentou:
-E usalos para manteres o Josh e a mim debaixo de vista?
Genna ignorou a sua provocação:
-Uso-os para manter todos debaixo de vista. É assim que se caça...
-Estás a chamar-me rato? -perguntou, sem saber se devia rir-se ou ficar ofendida.
-Eu prefiro passaros... Sabes, os pequeninos que cairam porque ele estava demasiado cheio?
Evellyn encolheu os ombros e prosseguiu, sem se dar ao trabalho sequer de ripostar, como sabia que ia irritar Genna. Ela conhecia-a como uma adoradora daquelas conversas, as suas próprias brigas educadas e passivas.
-Não tens resposta para esta? -acrescentou Genna, como ela sabia que faria. Deixou-se morder o isco.
-Queres que diga o quê? Pelo menos não caí do ninho porque ele tresendava...
-Estás a dizer que eu tresando? -ofendeu-se.
-A alcol, talvez... -esclareceu, com um encolher de ombros.
-Eu sei... Mas o que queres que faça? -o tom de aceitação de Genna fê-la sentir como se tivesse acabado de ultrapassar a linha do "amigavel"... No entanto, quando começava realmente e perguntar-se se devia pedirdesculpa, ela retomou a provocação:
-Para além de que não era a única, eu vi-te muito animada na outra noite?
-Referes-te áquela em que o Colin ficou acidentalmente com um buraco de dez centimetros de diametro no peito? Oh sim, foi uma animação... -ironizou, em resposta.
-Bem, ele está vivo, certo? Para além de que acabamos por nos desviar? -retorquiu Genna, simplesmente, abanando o cabelo negro para que este ficasse sobre o ombro direito.
-Achas? Queres mesmo que insista?
O seu tom adequadamente desconfiado pareceu alertá-la para o que acabara de dizer, e ela corrigiu-se com toda a dignidade que conseguiu.
-Não, deixa estar...
Deixaram a conversa ficar por ali, mas Evellyn, escondida pelo grande livro de História, sorria com um regozijo secreto.


Pronto. Ficou muito natural e perfeitamente adequado ao meu original. Juro-vos que, embora as ideias que utilizei no diálogo sejam de cenas em que já pensei muito, toda a discussão foi inventada no momento, e ele acabou por ficar bom sem eu ter de pensar muito, o que é melhor do que parar na mesma tecla a pensar no que vou dizer a seguir. Se não estiver a resultar, usem estes passos para desanuviar um pouco...
Desafio-vos a tentar. Arranjem duas personagens já criadas, mesmo que não sejam vossas, e sigam estes passos simples.
Vou deixá-los aqui por ordem, caso não queiram reler tudo:
1. Escrevam todas as frases numa folha em branco. Isto é importante, porque assim não têm toda a pressão de um texto por trás. Se não resultar, deitem fora e voltem a tentar, os reusltados são sempre diferentes, e é um optimo exercicio ;)
2. Como num guião, escrevam o nome das personagems por detrás de cada fala. para começar, aconselho apenas duas, mas podem ser mais, consoante o que quiserem fazer.
3. Junto á pessoa, coloquem uma emoção ou palavra que descreva a entoação. Não se preocupem em repeti-las, e usem-nas concisas.
4. Pensem na acção como se ela fosse um filme. Acrescentem gestos, pensamentos ou emoções entre falas, para tornar o texto fluido e realista.
5. Componham o texto com base nos 4 passos atrás. Cortem tudo o que for preciso, desde emoções e ajectivos a frases e movimentos, para obeterem uma compsição agradavel.

Experimentem, é um exercicio bom para treinar a capacidade de escrita e desanuviar, e o resultado pode agradar-vos tanto que acabem por utilizá-lo ;D

Um pouco sobre o meu estudo...

Estou (novamente) com aquela sensação de irrealidade. Como se nem pensasse no que estou a fazer... Talvez isso me dê inspiração... Se não desmaiar em cima do teclado -.-'.
Para além disso, dei por mim a pensar muito na seguinte frase:

Nem tudo o que vês está lá,
Nem tudo o que ouves é verdade.
A vida é uma ilusão e é isso que a torna tão real.


Já a teria transcrito de qualquer forma, mas hoje aplicasse em especial á forma como me sinto...
Por outro lado, estive a fazer a minha "pesquisa" do costume. Sempre quis ser escritora. É uma carreira que me atrai, embora não acredite que consiga fazê-lo... De qualquer forma, é de pequenino que se torce o pepino, e embora eu odeie que me chamem pequenina, tenho de admitir que este provérbio se adapta perfeitamente á minha situação.
Portanto, as minhas pesquisas têm três ramos diferentes:
1º - Será que é possivel publicar com a minha idade? -Isto é sempre um empecilho.
2º - Como publicar um livro (processos pelos quais tem de se passar caso se for aceite, o que é que devemos dizer e blah, blah, blah...) -Esta é a parte entediante. Ou seja: Aquela que é digna de uma aula (nem tem que ser particularmente aborrecida, apenas uma aula normal).
3º - Tem maioritariamente que ver com o caracter de se ser escritor... -Defenição não encontrada. Acho que se autodefine.
Então, eu podia ter posto Outros no terceiro, mas não acredito nisso. Uma vez que Outros inclui tudo, também devia incluir os dois primeiros... Ou, nas palavras da minha professora, «Os Etcs são para ser ditos».
Ora a natureza da primeira questão? Acho que é bastante obvia. As minhas respostas eram inconclusivas até á pouco tempo, mas ouvi algo muito animador sobre aquilo que eu já tinha ponderado, ou seja, que um encarregado possa assinar o contracto editorial pela criança (Ush!) que, obviamente, não poderá fazê-lo até completar dezoito anos. Já tonha várias teorias acerca disto, uma vez que existem tantas crianças a trabalhar para agencias de todos os tipos e a fazer vários tipos de arte, então, se escrever é uma arte, sinto-me no meu pleno direito ao tentar editar...
As más noticias? Isto vinha de um escritor e não de um Editor, logo eu ainda tenho algumas duvidas. E por favor, por favor, se ouver por aí algum editor ou advogado que me possa responder, eu iria ficar-lhe muito grata.
Acho também que a razão da segunda pesquisa está bastante clara. Ninguém pode ser matemático sem saber matemática (ou, nos dias que correm, sem comprar uma calculadora), e, portanto, eu tenho de saber como é que este ramo funciona se quero tentar a minha sorte (ou azar). Acho que fui bastante bem sucedida nesta procura, uma vez que os textos são da autoria de autores experientes ou editores (que se dirigem unica e exclusivamente a um adulto. Sem comentários), e são todos bastante elucidativos.
E a terceira pergunta é... Mera curiosidade. Já descubri meia duzia de artigos engraçados... Um deles, citando as palavras de uma autora que dizia que todo o escritor era simultaneamente arrogante e inseguro. Uma mistura algo explosiva... Mas, bem, tenho de admitir que a arrogância (vá, não é assim tanta) é um dos meus defeitos... Mas não me considero insegura... Bem, talvez seja.
Outro desses textos (desculpem-me por não vos poder creditar, mas foi já há algum tempo) dizia que todo e qualquer escritor era tudo menos egoísta. Ou seja: Todos têm o secreto desejo de que alguém, a arder de curiosidade, abra a nossa gaveta secreta (ora bolas, eu deixei-a aberta?!) e leia os nossos textos mais bonitos (foi só uma coisa de momento... Nada de especial!), lendo apenas os que estão por cima -naturalmente os melhores e mais elaborados (foi mera coicidência, tinha estado a revê-los...).
Bem, não posso dizer que não desejo que uma ou outra pessoa leia os meus textos, mas estes são um grupo restrito de pessoas, e acho que me limitaria a corar e a acenar se alguém que eu não quisesse os lesse (familia em lugar de destaque).
Eu cá não tenho uma gaveta descuidadamente aberta... Não, é um baú xD. Uma arcazinha pequenina. Não é tracado (ou sequer trancavel), mas duvido muito que alguém lhe mexa. As pessoas cá em casa não fazem isso... Acho. E o resto está guardado numa Pen ou na caixa de e-mail, com algumas excepções apenas para textos muito importantes, que estão guardados na minha Pen e no meu computador, para o caso de algum deles se perder...
Eu acho que falei demais =X. Vinha aqui só para dizer que talvez arranjasse inspiração mas que não tinha a erteza, e acabei por massacrar-vos com um texto de um metro... Isto é, se alguém o tiver lido até ao fim xD

Olá!

Olá, Estranho!
Pois, para mim tratá-lo por estranho é, sem dúvida, bastante mais facil do que tratá-lo por um Ninguém Em Particular ou Aquele Em Concreto. O Estranho tem tanto de afectivo como de respeitoso, e indica não só a sua condição em relação a mim, como também a vastidade de sentimentos e personalidade que possui. É a unica imagem que vejo mas, porem, sei-a mais cheia do que aparenta.
Para que é que serve este Blog, pode perguntar-se? Bem, para nada em particular e para tudo em questão. Chamo-lhe o Meu Cantinho Solitário, não porque sou solitária, mas exactamente porque não o sou... Porque tenho sempre com quem falar, alguém a quem me agarrar, um último recursa... Tenho a vida cheia. Cheia de amigos, de felicidade, de familia, de letras... Bem, por isso, achei que talvez fosse bom ficar um pouco mais vazia. Aqui sou o lado da mente que nunca revelei a ninguém. Aqui sou o lado que não tem de satisfazer a sociedade. O lado que ainda não tem amigos. Que é cego e que não conhece o mundo. O lado que é grande parte da minha mente mas muito pouco do meu exterior...
Mas a realidade é que criei este blog para poder desabafar sobre o meu percurso no caminho das letras...
Poderiam dizer-me muito nova para escrever. Podiam dizer-me muito nova para pensar. Podiam dizerme muito nova para me preocupar.
Bem, não sou muito nova pra qualquer destas coisas. Não á idade para espirito livre. Não á idade para as ideias claras. Não á idade para os objectivos.
Tudo o que os outros vêm é uma rapariguinha pequena, que gosta de rir e de conversar. Que se aborrece nas aulas e se vira para o lado. Que não quer usar o seu lado racional porque prefere o que corre riscos... Bem, e isso é tudo o que eles irão ver. Não me irão ver assim. Tão descoberta, tão fragil e tão insegura. Num mundo tão vasto, a insegurança pode ser o nosso fim, e fragilidade a nossa desgraça e o vacilar pode ser a morte.
Tenho apenas doze anos, espero pacientemente pelos treze, mas isso não significa que não pense nem sonhe.
Alguns sim, mas eu recuso-me a fazer parte da maioria.
Isso seria simplesmente demasiado banal.

Este é o meu novo blog. Não estranhem a quantidade de publicações neste primeiro dia, são as antigas do blog anterior...